Psicodélico: Não quero estereótipo de maconheiro, diz Ziggy Marley sobre HQ

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Não quero estereótipo de maconheiro, diz Ziggy Marley sobre HQ

Fonte : Folha de São Paulo

O músico jamaicano Ziggy Marley trocou o reggae por histórias em quadrinhos, pelo menos até junho, quando lança um novo álbum solo.

Ele conversou com a Folha sobre a criação da HQ "Marijuanaman", a ser lançada na quarta-feira pela editora americana Image Comics. A história foi criada em parceria com Joe Casey e ilustrada por Jim Mahfood.

Marijuanaman é um extraterrestre, cujo nome real é Sedona e cujo planeta está em crise. Em sua viagem em busca de soluções, ele acaba na Terra, onde conhece um grupo de ativistas que lutam pela legalização da maconha e contra vilões da indústria farmacêutica, criadores da "Ganjarex", uma pílula de prazer sintético.

Como é feito de THC (estrutura química da planta) e não DNA, Sedona vira Marijuanaman ao entrar em contato com a fumaça da maconha. Relutante em participar de uma guerra, ele acaba ajudando os ativistas contra o vilão Cash Money, um monstrengo motoqueiro captado pelos industriais gananciosos.

O livro está na pré-venda no site http://ziggymarley.com e traz de brinde um download da faixa-título do seu disco inédito, cantada pelo ator Woody Harrelson ("Zumbilândia").

"Wild and Free" é seu quatro álbum solo e vem na sequência de "Family Time", lançado em 2009 e voltado para o público infantil.

Marley, 42, esteve recentemente no Brasil, onde fez shows em algumas cidades e visitou instituições de crianças carentes na Bahia, como registrou em texto e fotos no blog do seu site. "Eu amo o Brasil, as pessoas são muito doces", disse.

Leia trechos da entrevista:

Folha - Como surgiu a ideia para criar "Marijuanaman"?

Marley - Queríamos colocar a maconha numa perspectiva diferente, lutar contra o ranço negativo e falar do positivo. A maioria das sociedades no mundo tenta demonizar a planta, mas eu acho que esta planta é um super-herói. O Marijuanaman representa a planta como um super-herói e não como uma droga do mal, como as sociedades tentam retratá-la.

Como eram as conversas com Joe Casey (escritor) e Jim Mahfood (ilustrador)?

A conversa era para fazer um super-herói e não uma piada. E que fosse além de fumar maconha. O super-herói não precisa fumar de fato, outras pessoas fumam para ele poder ter uma conexão com a planta. Conversamos coisas assim, para manter a filosofia, para não ficar estúpido. Há muitas coisas de maconha que aparecem em filmes e a maioria é um estereótipo. Não queríamos fazer um estereótipo que a indústria de entretenimento sempre faz de alguém que fuma maconha. Queríamos fazer diferente.

Você é fã de quadrinhos?

Sim, quando eu estava crescendo na Jamaica, comprava alguns quadrinhos às vezes. Meus favoritos eram "Batman" e "Homem-Aranha". Era o que tinha na época, os favoritos de sempre.

Você não acha que os pais vão ficar horrorizados se pegarem seus filhos lendo "Marijuanaman"?

Sim, acho que sim. Eles ficariam preocupados, claro. Porque eles estão programados para ser contra a planta. Mas acho que é OK para eles ver pessoas bebendo álcool ou fumando cigarros num filme, ou atirando contra pessoas e matando gente num filme. Acho que tudo isto é OK, eles aceitam. Mas fumar maconha, não, isto não pode. É pior do que matar alguém com uma arma.


Flávio Dutra/Folhapress
Show de Ziggy Marley durante o Pop Music Festival, em Porto Alegre. A banda fez o terceiro show da noite. (Foto: Flávio Dutra/Folhapress, ILUSTRADA) ***EXCLUSIVO FOLHA***
O cantor Ziggy Marley durante o Pop Music Festival, em Porto Alegre

Marijuanaman ganha super poderes ao ter contato com a planta, fica super veloz e forte. Mas as pessoas que fumam maconha costumam ficar relaxadas, meio lentas. Não é uma contradição?

Bom, ele não é da Terra, não é como nós. Então sua reação à planta é bem diferente da nossa. É como o Super-Homem, que veio de outro planeta e que reage ao nosso sol amarelo, o faz mais forte.

E o que pretende abordar nas próximas histórias?

Não quero falar ainda, mas ativismo é um elemento, a luta contra a corrupção e a poluição. Queremos falar de estilos de vida alternativos que não incluem poluir ou destruir a Terra.

O que acha que aconteceu de errado no plebiscito do ano passado para legalizar maconha na Califórnia?

É tudo politicagem, sabe? É um jogo político. A maioria das pessoas que fumam maconha não está realmente ligada em política. E elas evitam se meter porque nosso estilo de vida é fora da politicagem. Mas, você sabe, a planta tem muitos inimigos. Com tantos inimigos não dá para deixar a planta florescer.

Você acha que as pessoas que fumam maconha deveriam ser mais ativas e agressivas, como os personagens no seu livro?

Hummm, eu acho que vai acontecer um dia [...] Povos indígenas sabem dos milagres das plantas. Antes dos colonizadores aparecerem para tomar nossas terras, nós sempre usamos plantas, ervas e árvores para medicina e espiritualidade. Da onde eu vim, se eu estou doente, eu vou ao meu jardim e não à farmácia. E pego folhas e ervas para tratar, para fazer chá, e funciona, sabe?

Ainda faz isto?

Um pouco. Mas quando eu cresci, era a primeira coisa que a gente fazia. Não ia direto ao médico. As pessoas não podiam pagar médico particular, então a gente usava as plantas. Na época da colonização, se achava que, porque estavam usando esta ou aquela planta como remédios, não eram civilizados. O status ilegal da planta é resultado do que sobrou da luta contra culturas indígenas. É uma opressão contra os povos indígenas e suas culturas.

Pode falar um pouco sobre seu novo disco, qual foi sua inspiração?

O álbum se chama "Wild and Free" e foi inspirado pela planta. Sabe, são tantos anos apenas ouvindo mentiras sobre a planta. A gente só quer contar a verdade.

Como foi a parceria com Woody Harrelson?

Foi ótimo, Woody é um grande amigo. Ele canta na faixa-título. Ele veio me visitar e eu disse: "Woody, escuta isto aqui, você quer cantar nesta música?". E ele disse OK. O processo foi bem... você sabe foi ao vivo, a gente se conectou, foi bem orgânico. Não forçamos nada, não queríamos complicar ou ser muito críticos. Só queríamos tocar música e aproveitar, sentir prazer.

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