Psicodélico: Observações à ARUPA, 1984 - Terence McKenna

sábado, 7 de abril de 2007

Observações à ARUPA, 1984 - Terence McKenna

É interessante ver o diálogo entre Terence, Albert Hoffman e Ralph Melzner neste texto extraído do livro O Retorno á Cultura Arcaica do Terence McKenna.

Palestra pronunciada no Esalen Institute, da Califórnia, no outono de 1984, durante uma reunião da Association for the Responsible Use of Psychodelics (Asso­ciação para o Uso Responsável de Substâncias Psicodélicas), grupo informal composto de psicólogos, químicos e terapeutas que, entre 1983 e 1986, se reuniu periodicamente em Esalen sob o patrocínio de Richard Price.


Arthur Young disse certa vez uma frase que me causou forte impressão. Alguém lhe trouxe uma máquina, pedindo que ele a aperfeiçoasse. Arthur indagou o que a máquina fazia. A pessoa disse não saber. "Então, como espera que eu a aperfeiçoe?", indagou Arthur. Acho que estamos na mesma situação no tocante às substân­cias psicodélicas. Eu não sairia do meu estúdio, onde tenho tantos livros, para participar de uma conferência sobre algum novo pro­gresso do tratamento ortomolecular da neurose, e prefiro acreditar que, no fundo, o que estamos discutindo aqui nada tem a ver com isso. O meu ponto de vista é bem mais radical, mais milenarista e talvez mais "técnico". O que acho que ocorre com os alucinógenos, especialmente os da família das triptaminas (e mais adiante voltarei a falar deles), é certo tipo de indicação de uma realidade objetiva.

Quando me perguntam "Qual a sua fantasia?" ou "Qual a sua visão?" , respondo que eu gostaria de trazer de volta um pedaço da outra dimensão. Às vezes, o que me ocorre não é trazer de volta um pedaço dela, e sim fazer nela um furo para que ela escoe até nós. Há pouco, durante uma conversa que tive com Marilyn Ferguson, ela me disse: "Os alucinógenos são janelas." Respondi: "Espero que sejam portas, portas que possamos abrir para entrar e ir de sala em sala em um mundo tridimensional que confirme a realidade dessas coisas."

Platão disse que, se Deus não existisse, o homem o inventaria. Se esse mundo psicodélico e hiperdimensional não existisse, nós o inventaríamos por meio de computadores e de interfaces homem­máquina. Felizmente, ele existe na tradição mundial do uso de alucinógenos. Compreendo os esforços de pessoas como Fritjof Capra, no sentido de explicar a consciência em termos de física quântica, mas estou convencido de que a primeira premissa deve ser que, na verdade, não sabemos absolutamente nada quanto à natureza da realidade. É por isso que não podemos definir adequa­damente os conceitos de "espírito", "ser" e "ego".

É provável que estejamos tão longe de qualquer noção divina de verdade objetiva quanto as sociedades do passado. A idéia de que descendemos de um povo-formiga que saiu da urina do deus do céu, quando ele saltou da canoa para esvaziar a bexiga na sétima catarata, parece-me mais palpável que a noção de que derivamos do "Big Bang" - momento em que o universo inteiro surgiu do nada e sem motivo algum. É uma questão de relativismo de mito­logias. De fato, mal começamos a tentar compreender a natureza do ser no mundo. É por isso que eu gostaria que houvesse mais entusiasmo, ou convicção, ou algum modo pelo qual pudéssemos deixar de agir como o cego diante do elefante e chegar a algum tipo de consenso quanto a essa dimensão e o que ela prenuncia.

Ontem Stan Grof trouxe à baila a noção do "psicóide" , termo que ocorre no pensamento de Jung quando ele modifica ligeiramen­te sua afirmação sobre a natureza da dinâmica do subconsciente. Sugere que o subconsciente está, ao mesmo tempo, no mundo exterior e dentro de nós, e que há nisso certa congruência. É essa a dimensão para cuja exploração os alucinógenos são adequados: esses estados intermediários entre o espírito e a matéria. A migração de coincidências, a fusão sincronística dos fluxos externo e interno de eventos são fenômenos que podem ser repetidamente provoca­dos por esses compostos. E isso é muito importante.

Devemos admitir que há algo de tóxico no processo histórico - que realmente não podemos refiná-lo de modo a salvar a nossa pele. Na palestra de Fritjof Capra, havia uma noção muito forte de que a ciência precisa de nova roupagem - que, nessa nova roupa­gem, ela poderá exprimir a natureza da realidade. Pergunto-me se isso é verdadeiro. Uma das coisas trazidas à tona pelos alucinóge­nos, e que deixaria louco qualquer físico, é a curiosa qualidade literária visível na superfície da existência. Descobrimos que somos personagens de um romance, que somos, ao mesmo tempo, impe­lidos e vitimados por vários tipos de forças coincidentes que moldam a nossa vida. É nisso que consiste o reconhecimento do fator sincronístico. É como se você flagrasse o espírito no ato de compor a realidade.

Frank Barr e eu estivemos falando de Finnegans Wake e comparando-o a um fractal, dizendo que o fractal é uma curva que, em virtude de sua complexidade, atinge uma dimensão parcial, mais de auto-expressão, no universo. Finnegans Wake é um livro que, em certo sentido, tenta inserir-se no mundo e tornar-se um sistema autônomo de eventos. Acredito que os alucinógenos de­monstram ser possível atingir essa interface entre um mundo co­mum de experiências tridimensionais e esses espaços hiperdimen­sionais. Por nos erguerem à altura de uma fração de dimensão, os alucinógenos nos permitem uma espécie de contemplativo acesso ao hiperespaço.

O que o meu irmão Dennis McKenna disse em sua palestra foi que a qualidade que nos torna humanos surgiu da interface entre as plantas e os primatas. Vejo isso como um processo ainda em andamento e que, na superfície do planeta, só foi interrompido na Europa há cerca de 1.500 anos. Essas várias substâncias atuam como força mediadora na história humana. Basta refletirmos sobre o impacto do açúcar, do tabaco, do café, do álcool, do ópio e dos alucinógenos.

A sugestão de que os alucinógenos podem transformar uma pessoa em bom cidadão me surpreendeu. Sempre supus que o motivo pelo qual os alucinógenos não são legalizados não é que alguém se preocupe com o fato de que eles causam visões, e sim que há algo neles que lança dúvidas sobre a validade da realidade. Os alucinógenos são, inevitavelmente, agentes descondicionantes, pelo simples fato de demonstrarem a existência de outra realidade próxima que funciona com uma dinâmica diferente. Acho que eles são, inerentemente, catalisadores de dissidência intelectual, e isso toma sua aceitação muito difícil às sociedades, mesmo àquelas que são democráticas.

Trouxeram-me aqui para dizer que as triptaminas vegetais são diferentes. Há um problema na história dos alucinógenos: em determinado momento, o LSD surgiu e tornou-se um problema social. Muita pesquisa foi dedicada ao assunto. Os outros alucinó­genos - a psilocibina, o DMT etc. - foram vistos como compos­tos semelhantes, que apenas exigiam mais material físico para produzir os seus efeitos. Nos textos aceitos, todos são classificados no mesmo grupo. Na verdade, as triptaminas têm uma qualidade muito diferente do LSD, quase ao ponto em que precisamos dividir em duas a palavra "alucinógeno" para que ela possa comportar a diferença ontológica entre as triptaminas e essas outras substâncias.

Albert Hoffman: Você inclui a psilocibina no grupo das triptami­nas?

Terence McKenna: Claro que sim.

Albert Hoffman: Então vê grandes diferenças entre o LSD e a psilocibina?

Terence McKenna: Certamente. Parece que, só com alguma relutância, o LSD se torna um alucinógeno provocador de visões. Em termos de atividade no córtex visual, a psilocibina produz alucinações visuais de um modo fantasticamente prolífico. Em minha opinião, as alucinações visuais são muito mais acessíveis à maioria dos que tomam psilocibina. Contudo, a qualidade que verdadeiramente determina uma distinção entre esses alucinógenos - e você discu­tiu isso brevemente em Santa Barbara - é que as triptaminas têm uma qualidade de animação. Parece haver uma entidade semelhante ao Logos - uma presença alienígena - que não se pode atribuir facilmente aos componentes da psique. E é animada, estranha, dotada de um exotismo e de uma personalidade que não estão presentes no LSD. Você não concorda?

Albert Hoffman: Sim, mas creio que há uma diferença entre a psilocibina e as triptaminas. A psilocibina funciona oralmente; as outras triptaminas são fumadas.

Terence McKenna: O ayahuasca é uma triptamina oralmente ativa. Quem toma uma forte dose de ayahuasca chega, dentro de uma hora e vinte minutos, a uma região inteiramente semelhante àquela a que chegaria se houvesse fumado DMT. O mesmo acontece uma hora e vinte minutos depois de se tomar uma dose de trinta miligramas de psilocibina. Sabe-se que a psilocibina não se converte em DMT quando se degrada, mas o DMT está presente na ayahuasca como composto puro. É estranho: as triptaminas são os alucinógenos mais comuns na natureza orgânica, mas são os menos explorados pela ciência. Acredito que isso se deva a uma relutância em encarar essa dimensão peculiar e exótica. Sasha Shulgin descreve o DMT como "sombrio" - é o rótulo que ele lhe dá. "Demoníaco" é uma palavra freqüentemente usada. Não sei exatamente o que isso significa. Jung sempre falou acerca de "demônios" e associava os "demônios" à terra. Lembro-me de que ele menciona os demônios mexicanos da terra.

É verdade que as pessoas são muito reticentes quanto aos cogumelos, abordando-os com muito cuidado. As triptaminas são os compostos menos sujeitos a abuso, pois os seus entusiastas costumam ser extremamente cautelosos.

Isto porque a experiência é muito misteriosa. Inclui o ingresso em uma dimensão extra-humana, que independe do ego, uma dimensão que não pode ser medida. Não se trata de resolver os nossos processos introspectivos pessoais. Todos os alucinógenos parecem ser os mesmos em pequenas doses, doses um pouco acima do limiar. Contudo, à medida que se tomam doses maiores, mas que ainda são farmacologicamente isentas de risco, surgem as diferen­ças. Ocorrem sinestesias exóticas, inclusive a geração de linguagem tridimensional- uma situação na qual, usando a voz, a pessoa pode criar modalidades coloridas tridimensionais dotadas de conteúdo lingüístico. Essa linguagem visível pode ser exibida a um amigo ou amiga que esteja no mesmo estado. É como se a linguagem fosse dotada de um potencial que raramente é expresso. Robert Graves escreveu acerca de um ur sprach - uma linguagem poética prime­va cujo poder residia em sua contemplação. E Hans Jonas mencio­nou a noção de um Logos mais perfeito - um Logos não dos ouvidos, mas dos olhos.

Acredito que a pesquisa dos alucinógenos não é um remanso de águas paradas na periferia da História. Os alucinógenos não são um avanço científico destinado basicamente aos neuróticos ou doentes mentais. São literalmente "o novo mundo". Já avistamos sinais de terra no hiperespaço. Agora temos quatrocentos ou qui­nhentos anos de exploração à nossa frente. Na interface psicodélica entre o homem e a máquina, pode haver castelos na imaginação. Podemos decidir que foi para isso - esse casamento entre imagi­nação e capacidade - que a história humana existiu, de modo a possibilitar a criação de uma civilização realmente civilizada, com raízes na experiência psicodélica.

Há interesse, até mesmo ansiedade, em que nós como grupo, nós que partilhamos desses conhecimentos, criemos um clima político no qual seja possível pesquisar mais e no qual essas questões possam ser discutidas mais livremente. Concordo em princípio com tudo isso, mas não estou disposto a dedicar-lhe muita energia. No passado, muita experimentação clínica foi feita em relação ao LSD; um dos oradores se referiu a dados provenientes de oito mil administrações de LSD. Certamente o que podia se aprender com essa modalidade já foi assimilado, pelo menos super­ficialmente.

Em vez do alargamento horizontal da fé, interessar-me-ia muito mais um fortalecimento vertical da fé, fazendo com que as pessoas que já tomaram esses compostos passem a tomar mais, tomar compostos diferentes e em doses maiores. O verdadeiro crisol dessa pesquisa é o Eu. Devemos manter diários e registrar experiências em um banco de dados, para que os temas comuns possam ser identificados em grandes grupos de relatos apresentados. Em outras palavras, fortalecer a comunidade, em vez de ampliá-la.

Acredito que a experiência psicodélica foi a luz do começo da História; que essa foi, realmente, a coisa mais importante; que hoje já atingimos um nível suficiente de sofisticação analítica para discernir a força que levou a mente animal a ingressar no palco humano. Trata-se de um processo que, uma vez deflagrado, não tem fim. É como se esses alucinógenos botânicos fossem exo-hormô­nios, produtos químicos portadores de mensagens, destilados por Géia para controle do desenvolvimento do processo histórico da espécie catalisadora que vem alterando a face do planeta. O fato de termos descoberto algo a respeito do passado não é apenas uma questão de arqueologia noética. O mesmo se pode dizer da desco­berta de Albert Hofmann acerca de Elêusis; e pode vir a ter maior impacto que a descoberta do próprio LSD. Trata-se da descoberta de um esqueleto no armário. Há esqueletos no armário das origens humanas e da origem da religião. Aposto que esses esqueletos são, todos eles, alucinógenos vegetais. Se formos capazes de conviver com eles, poderemos começar a compreender a feição do futuro humano.

Não é fácil medir a experiência psicodélica. Parece ser um mundo tão grande quanto o antigo domínio da natureza. Não é apenas o inconsciente coletivo de Jung - o repositório de toda a experiência da espécie humana - e menos ainda a noção freudiana do repositório de lembranças da experiência individual. Parece que o que Freud e Jung conceberam como um lugar na organização da psique é reconhecido no modelo xamanista como um lugar, uma dimensão vizinha, adjacente, na qual a mente pode se projetar e, galgando essas dimensões interiores, senti-las como realidades.

O objetivo de William Blake, de liberar o espírito humano projetando-o na imaginação, é um objetivo cultural razoável, pro­vavelmente ao nosso alcance através de criteriosa aplicação da cibernética e de substâncias psicodélicas. Acho que vamos nos aproximando rapidamente desse objetivo; e, como o grupo aqui presente é um grupo de vanguarda por definição, causa-me surpresa o fato de sermos tão comedidos. A atitude que tomarmos em relação a esses problemas, a maneira pela qual entendermos e interpretar­mos essas experiências, determinará o modo pelo qual a questão se propagará por todo o mundo.

Um dos problemas é como construir pontes que nos levem ao futuro. Existem cerca de cinco ou seis questões botânicas muito prementes em relação aos alucinógenos, prontas para explodir em vários lugares do mundo - drogas ou preparados xamanistas sobre os quais a literatura é muito sugestiva, e na confecção dos quais as famílias de plantas utilizadas contêm alucinógenos já identificados. Cinco anos de trabalho por parte de médicos, antropólogos, etno­botânicos e gente disposta a aventurar-se poderiam provavelmente dobrar a quantidade de informações conhecidas a respeito dos alucinógenos vegetais.

No passado, a dificuldade residia no preparo, em laboratório, de parentes estruturais dos compostos conhecidos. Mas até mesmo compostos como o 2CB, que tem relação com o DOM, jamais teriam sido descobertos se alguém não houvesse notado que um produto natural, a miristicina, era de certa forma psiquicamente ativo. Toda a família do MDMA pode ser vista como variações da molécula de miristicina. Precisamos saber se existem alucinógenos, em famílias químicas desconhecidas, que detêm o segredo da elaboração de novos compostos em laboratório.

O método inicial da farmacopéia botânica era enviar pessoas à floresta para coletar, extrair e caracterizar; depois, com o progresso da arte da síntese, essa atividade diminuiu gradualmente e houve um número cada vez maior de sínteses, a partir de teorias baseadas em relações entre estruturas e atividades. Atualmente, grande parte desse trabalho já foi realizada e nenhuma nova família alucinógena importante foi descoberta. Restam importantes tarefas de levanta­mento botânico a serem feitas no mundo, a fim de identificar os alucinógenos que possam estar caindo em desuso, ou cujo uso é restrito ou muito endêmico. Tudo isso são maneiras de expandir o nosso conhecimento dos alucinógenos. Qual o lugar que lhes cabe na natureza? Isso poderia ser determinado. Certamente não é no contexto do tratamento da saúde mental.

A Renascença italiana funcionava à base de especiarias; os italianos precisavam obtê-las em algum lugar, e as importavam. Ora, "especiarias" é um termo muito ambíguo. Se pudéssemos fazer com que os alucinógenos fossem reclassificados como espe­ciarias, eles passariam a ser controlados, não por psicoterapeutas e psiquiatras, mas por cozinheiros e maîtres-d'hôtel. Teríamos então um modo inteiramente diferente de administrar as substâncias, os ambientes e os objetivos psicodélicos.

Parece-me que estamos na Idade da Pedra em relação a todas as fases dessas explorações. É espantoso que ainda haja tanto a fazer - e, para todos nós, é um enorme privilégio estarmos à frente dos que vão participar da aventura. É difícil acreditar que estejamos ainda na estaca zero, 25 anos depois que Leary travou a batalha do LSD; mas é o que parece - por omissão, pois ninguém mais deseja isso.

Ralph Melzner: Posso fazer alguns comentários a esse respeito? Suas idéias, bem como a idéia de Albert Hofmann quanto ao papel desempenhado por plantas alcalóidicas em Elêusis, coadunam-se com a noção do despertar dos deuses antigos. Essas plantas eram sagradas, tratadas como seres sagrados, divinos, basicamente deidades. Se chegarmos a identificar o que era o soma, poderemos identificar e recriar a fonte original de energia que impulsionou a civilização indo-européia. Da mesma forma, se redescobrirmos e pudermos incorporar o que quer que tenha sido utilizado em Elêu­sis, teremos o ímpeto original que, durante dois mil anos, transfor­mou a civilização greco-européia no principal veículo da experiên­cia religiosa.

Terence McKenna: O soma é a luz que há no começo e no fim da História. Essa é a noção. É o soma que infunde a História. A História é um processo que ele criou para os seus próprios fins. Mantemos um relaciona­mento simbiótico com uma criatura biológica que é como um deus, por ser tão avançada, tão diferente e possuir um corpo de informa­ções tão peculiar em comparação com o nosso.

Ralph Melzner: Outra breve questão quanto ao soma. O que quer que ele fosse, por que desapareceu? Hoje não existem na índia exemplares do Stropharia cubensis ou do Amanita ou de qualquer outro desses alucinógenos. Se algum existe, é bastante remoto, não uma coisa generalizada como o álcool ou o vinho, que se tomaram drogas religiosas/sociais muito em voga em toda a cultura ocidental. Minha teoria acerca do que aconteceu naquele tempo é a mesma do que está acontecendo hoje; que o uso do soma, que era um genuíno intoxicante religioso no sentido de que produzia uma experiência religiosa e o conhecimento direto de Deus, foi sistema­­ticamente reprimido e eliminado pelo clero, que desejava, antes de mais nada, manter a sua própria estrutura de poder. Se o povo pudesse ter uma experiência direta de Deus, ingerindo cogumelos ou outra planta qualquer, não se interessaria por estruturas de poder sacerdotal - não lhes daria a menor importância. Por que uma pessoa haveria de falar com um sacerdote quando poderia falar diretamente com Deus?

Terence McKenna: É esse o fator descondicionante.

Ralph Metzner: Vimos nos anos 60 e vemos hoje que os detento­res de poder na sociedade não querem que grandes números de pessoas tomem substâncias ou ingiram plantas capazes de expandir a consciência. Que um aqui e outro ali o faça, tudo bem. Mas não querem que a coisa seja feita por grandes grupos, capazes de lhes causar problemas.

Terence McKenna: É por isso que a abordagem vertical é melhor. Experiências mais profundas para um núcleo mais forte.

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